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Crítica | Virtuosas (Mostra de SP 2025)

  • Foto do escritor: Vinicius Oliveira
    Vinicius Oliveira
  • 30 de out.
  • 2 min de leitura

Filme faz acanhada mescla de gêneros para satirizar o conservadorismo feminino

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Foto: Reprodução


Na esteira de produções que miram na sátira para debater e problematizar os maiores absurdos vividos na nossa realidade contemporânea, Virtuosas, de Cíntia Domit Bittar, mira no movimento do conservadorismo feminino através das lentes da sátira e do horror. Na história, um retiro VIP para mulheres em busca de sua melhor versão se transforma em uma jornada absurda e perigosa.


É difícil não associar a premissa da obra a algumas mais recentes que apostam no desconforto de um personagem inserido em um ambiente no qual está claramente deslocado, seja Corra! ou Pisque Duas Vezes. Aqui, a protagonista Germina (Maria Galant) é inicialmente apresentada como uma personagem disposta a tudo para estar nesse retiro VIP organizado por Virginia (Bruna Linzmeyer), mas aqui e ali se veem gradativas fissuras que sugerem que ela talvez não seja quem diga ser.

 

Mas talvez ninguém ali seja, a começar pela própria Virginia. A performance de Linzmeyer é um dos pontos fortes do filme, construída em cima de uma ambiguidade e frieza que escondem as suas reais motivações, as quais certamente estão longe de serem nobres ou cristãs. Quem também rouba a cena é Juliana Lourenção na pele de uma mãe e esposa de deputado que se torna o alvo principal de Virginia, e ver a maneira como a atriz transmite progressivamente o descontrole da sua personagem é um dos fatores que sustentam a obra.

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Foto: Reprodução


A direção de Cíntia Domit Bittar é eficaz em usar de elementos da iconografia do horror (o extracampo, o trabalho de som, as sombras) para causar um desconforto crescente na maneira como estas mulheres interagem entre si. É curioso perceber, porém, como esse desconforto se dá muito mais pela encenação do que pelo texto de Bittar, que não se furta a cair em certos lugares-comuns no que tange esse universo, seja nos chavões bíblicos ou nos discursos coach. Rende algumas boas risadas, mas volta ao problema que citei nas minhas críticas de Eddington e Bugonia, como obras situadas nessa leva de sátiras que se contentam apenas em trazer de maneira quase ipsis litteris o absurdo da realidade para as telas.


Diferentemente destes filmes, porém, onde se via as amarras serem soltas nas suas retas finais, aqui Bittar acaba segurando as rédeas por tempo demais. Embora na apresentação do filme ela o tenha classificado como horror, é justo dizer que ele é em torno de 80% sátira e 20% horror, apenas abraçando plenamente este último nos minutos finais, com um encerramento um tanto abrupto que nos faz desejar uma resolução mais desenvolvida. 


Apesar disso, Virtuosas está longe de ser um desastre na maneira com a qual retrata mulheres conservadoras e as maneiras pelas quais foram cooptadas e estão enredadas em um projeto de poder (inclusive por outras mulheres). Não fosse a obviedade com a qual muitas vezes elabora seu discurso e a certa timidez com a qual abraça o horror, poderia ser uma sátira mais memorável, mas acaba sendo mais uma obra de uma safra cada vez mais saturada.


Nota: 2.5/5


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