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  • Foto do escritorFilipe Chaves

Crítica | O Regime (Minissérie)

Produção da HBO mira em sátira política, mas é apenas uma bagunça pretensiosa

Foto: Divulgação


Ambientada em uma pequena nação fictícia da Europa, o foco está na personagem de Kate Winslet, Elena Vernham, uma chanceler autocrática, que apesar dos vários conselheiros, faz o que bem entende com o povo que governa, em meio a polêmicas e crises. Esta é a tentativa de sátira política, que mira em críticas ao imperialismo estadunidense, ao governo chinês e acaba não sendo eficaz em nenhuma delas. E o que mais esta série limitada faz é tentar mesmo. Ninguém pode culpá-la por isso, somente por não conseguir alcançar o que quer, mesmo com o elenco competente e o rico design de produção do hotel em que Elena transforma em seu palácio quando ascende ao poder, o que não é suficiente para ser interessante.


São seis episódios de quase uma hora de duração cada. Seis horas enfadonhas, que em poucos momentos despertaram algum sentimento. Criada por Will Tracy, um dos roteiristas da badalada Succession, ele parece não saber muito bem a história que queria contar e não soube para onde levá-la. Há uma possível revolta anunciada do povo contra Elena, porém não existe qualquer tensão em torno disso. Lembro de exatamente duas cenas que me fizeram esboçar um sorriso. A primeira acontece no episódio um e a segunda no episódio cinco. Ambas se devem muito mais ao talento de Winslet, que exprime o que pode do texto perdido de Tracy e sua equipe. Elena é amoral, egoísta, tem um marido palerma, um filho com quem passa um tempo contado, e é criado pela sua ajudante Agnes, interpretada pela sempre ótima Andrea Riseborough. A governante ainda vive um tórrido, se assim pode ser chamado, romance com um militar perturbado, feito com intensidade por Matthias Schoenaerts. É algo muito mais sexual, na verdade, que se fosse bem trabalhado poderia oferecer algum grau de nuance, mas não é, mesmo sendo o ponto de partida da história, quando Herbert, seu personagem, é selecionado pela equipe para que “cuide” da germofobia da chanceler, sendo uma espécie de escudo humano.

Foto: Divulgação


Em certas cenas, até Winslet se perde no exagero na interpretação, porém segura muito bem na maior parte do tempo. Vencedora do Oscar e vencedora dupla do Emmy, não é à toa. O esperado era que sua terceira estatueta viesse agora, mas depois de assistir tudo, acho que não será o caso, não só por ela, que é a melhor coisa da produção, mas pelo conjunto da obra. Se em Elena ainda há algum traço de complexidade, os outros personagens são todos de uma nota só, em um elenco competente, porém desperdiçado. Inclusive nas participações de nomes como Hugh Grant e Martha Plimpton. A direção, metade de Stephen Phears, metade de Jessica Hobbs, parece não saber conversar com o roteiro. As vezes o tom é sério demais, para uma tentativa de humor, o que deixa a cena completamente fora do tom. Não falta talento nos diretores e roteiristas, mas aqui faltou harmonia.


A minissérie tenta ser estranha só pelo prazer de ser, e é mais fácil sentir vergonha alheia, do que achar “cool”. Tenta ser importante ao satirizar regimes autoritários. Tenta, tenta, tenta. E morre na praia. Ao final do sexto episódio, é notório que não existe um propósito aqui, porque ela não é divertida, não emociona, não traz nenhuma reflexão que alguém já não tenha feito antes e de uma maneira melhor. E não estou dizendo que a arte ou qualquer produção visual tenha que ter uma “mensagem”, não é o ponto. Mas qual é o ponto aqui? Nem quem escreveu parece saber. O mínimo que eu esperava, era entretenimento, e só recebi, como disse, em duas míseras cenas. Mesmo com o excelente elenco, não há nada que justifique o investimento de seis horas do tempo de alguém aqui. O ritmo é lento, o que não é problema quando há outras qualidades, mas os diálogos são enfadonhos e querem parecer muito inteligentes, só não têm a menor graça, já que nada aparenta ter importância e o sentimento maior é de apatia. Uma pena, mas O Regime é a grande decepção do ano, até então. Se com três gols dá pra pedir música no Fantástico, teremos que esperar a próxima jogada da parceria HBO + Winlest, uma vez que esta passou longe de Mildred Pierce (2011) e Mare of Easttown (2020).


Nota: 2/5

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