Entrevista | Gabriela Correa e Sophie Charlotte destacam o processo de interpretar "Virgínia e Adelaide"
- Gabriella Ferreira
- 8 de mai.
- 6 min de leitura
As atrizes protagonistas do longa compartilham suas experiências na construção do filme e suas expectativas para o impacto das produções brasileiras nas salas de cinema.

Divulgação
Estreia nesta quinta-feira (8) nos cinemas Virgínia e Adelaide, um filme que traz à tona a trajetória de duas mulheres que deixaram um legado indelével na psicanálise brasileira. O longa, dirigido por Yasmin Thayná e Jorge Furtado (leia a nossa entrevista com os diretores aqui), é uma obra de ficção inspirada nas vidas de Virgínia Leone Bicudo e Adelaide Koch, pioneiras do método psicanalítico no Brasil.
A história explora a amizade entre essas duas mulheres extraordinárias, que se conheceram quando Virgínia, socióloga e psicanalista negra, iniciou um processo terapêutico com Adelaide, médica e psicanalista judia que havia fugido da Alemanha nazista. Em conversa com o Oxente Pipoca, as atrizes compartilham os desafios e aprendizados de interpretar duas personagens tão marcantes, discutem o processo criativo e a colaboração com os diretores, e falam sobre a importância do momento atual do cinema brasileiro. Confira a íntegra abaixo:
Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Para vocês, como atrizes, imagino que o desafio tenha sido em dose dupla. Não só por interpretarem personagens, mas personagens que realmente existiram. Isso aumentou ainda mais a responsabilidade de vocês? Como foi essa experiência de gravar um filme que, na minha opinião, é tão importante para os dias de hoje?
Gabriela Correa: A gente fica com aquela sensação: “Será que eu estou fazendo certo? Será que eu estou transmitindo o respeito? Será que eu estou honrando esse legado, essa história?”
E aí chega um determinado momento que tá tão dentro, tá tão amparado pelo roteiro. A gente tava tão amparada pela equipe de arte, pelo figurino, pela maquiagem, e a gente também tava amparada pela pesquisa, pelos ensaios, por todo o trabalho de estudo que a gente teve da vida delas.
Então acho que chega uma hora que a gente se sente livre. Eu acho que é muito importante a gente se sentir livre nesses processos, ao invés de ficar procurando fazer igual. Eu acho que esse foi o tipo de trabalho que permitiu que a gente tomasse certas liberdades.
Então, eu me senti muito livre para propor, para fazer uma proposta do que seria naquele roteiro e tal. Mas óbvio: é uma responsabilidade grande. E fica intenso, né? Na nossa cabeça.
Sophie Charlotte: Ah, agora me veio uma palavra… me veio esse estado de paixão. Eu acho que quando eu descobri essa história, que eu não conhecia, da Virgínia e da Adelaide, eu fiquei muito interessada. Acendeu uma chama.
E aí eu conheci a Gabriela, e ela me interessou muito. E aí os nossos primeiros contatos, as primeiras reuniões por Zoom, eu fiquei muito apaixonada pelo processo, querendo contar essa história.
E aí essa potência só se estendeu e se multiplicou durante todo o processo. A cada setor novo que chegava, prova de figurino, todo o processo de ensaio, a gente conhecendo a equipe, uma equipe toda de Porto Alegre, muitas mulheres como cabeça de equipe, sabe? Uma diversidade de artistas ali contribuindo e querendo contar essa história.
Também o desejo de cada um foi ecoando e multiplicando o meu, me dando mais impulso para querer realmente me dedicar, estar totalmente disponível, vivendo aquilo.
O set de cinema, pra mim, é um lugar muito de sonho, muito sagrado. Eu trabalho há muito tempo, mas o set de cinema, eu acho que é dos lugares mais lindos, assim, de mergulho, onde o tempo fica suspenso, né?
A novela é uma jornada diferente — uma jornada de muitos meses, e a gente está com o público — e eu amo fazer. Agora, o cinema tem um lugar muito especial. E esse, feito com tanto desejo e com tanto cuidado pela Casa de Cinema, com parceiros tão interessantes como a Gabriela, a Yasmin, o Jorge, todo mundo da nossa equipe… eu estava vivendo um sonho ali, até a gente fechar o projeto.
Nossa, aquilo era combustível, sabe? Ali eu tava pegando um gás mesmo.
A Gabriela falou do encontro com as personagens, mas eu também compartilho disso — como esse set me deu gás, assim. Eu fui direto pra uma novela cheia de ideias, e renovada em muitos conceitos artísticos.
Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Um ponto muito interessante é que o filme é centrado apenas em vocês duas. Não há outros personagens, e praticamente toda a narrativa se constrói a partir do diálogo e daquela troca intensa entre vocês. Imagino que deve ter sido uma experiência muito diferente como atrizes, estar num set só com a outra, carregando a responsabilidade de sustentar um longa inteiro apenas com essa interação. Como foi viver essa experiência, que ao mesmo tempo pode dar medo, mas também deve ter sido profundamente enriquecedora?
Gabriela Correa: Acho que o filme tinha esse desafio, né? De se propor um filme inteiro só com essas duas personagens, então como que isso fica interessante, como que isso acontece? Eu acho que esse era um desafio do roteiro, um desafio nosso, mas aconteceu de uma forma muito interessante e fluida.
E realmente é uma responsabilidade gigantesca, mas lembrando da nossa experiência no set, óbvio que era sério e que a gente precisava fazer acontecer, mas hoje eu fico: “Ah, foi legal.” A gente se divertiu, enfrentou cada etapa de pouquinho em pouquinho, saboreou o que precisava saborear, viveu intensamente cada etapa e não deixou o gigante devorar a gente, o gigante do medo, o gigante da dúvida.
Sophie Charlotte: A gente também foi conduzida por dois diretores muito brilhantes, que se complementaram nessa orquestração de um jeito genial. Então eu senti que tudo que poderia ser preocupação, tensão, foi sendo transformado em ocupação, em ideia.
Estavam os dois totalmente engajados, trazendo pessoas legais, ideias, conceitos estéticos, tudo para ajudar, tudo para contar a história. Então, não tinha uma sensação nem de uma hierarquia distanciando a gente deles, ou a gente do processo também.
A gente foi convidada para viver esse processo junto. A equipe foi convidada para participar. Então era essa energia de você se sentir autor, se sentir também pertencendo a essa construção.
De repente, você não está sozinho, só na sua responsabilidade. Tá todo mundo junto. Apesar de sermos essas personagens-título, a gente não tava sozinha, não.

Divulgação
Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Bom, o nosso tempo já tá quase acabando, então eu queria saber como vocês esperam que o filme seja recebido pelo público? Como vocês esperam que essa história alcance quem vai assisti-lo?
Gabriela Correa: Ah, espero que as pessoas abracem esse filme, que ele chegue ao maior número de pessoas possível, que as pessoas consigam se ver na tela. É uma história brasileira, é uma história sobre esse encontro que acontece no contexto do Brasil.
E, enfim, espero muito que as pessoas consigam se emocionar com essa história.
Gabriella Ferreira (Oxente Pipoca): Pra encerrar, aqui no Oxente, a gente tem uma tradição: perguntar pra todo mundo uma dica de filme brasileiro — uma produção nacional que seja a sua favorita ou que você tenha assistido recentemente e queira indicar para o público.
Gabriela Correa: Eu assisti um filme recentemente que eu adorei, um filme brasileiro do Marcelo Caetano chamado Baby. Eu não sei se está no cinema ainda… acho que ele já está em streaming.
É um filme maravilhoso. Eu achei fantástico. Achei muito bom. Eu encontrei o Marcelo na rua, assim, e fiquei com vontade de falar com ele, mas fiquei com vergonha.
Mas, enfim, vou indicar o filme Baby, do Marcelo Caetano.
Sophie Charlotte: Eu tô na expectativa do filme chegar ao maior número de pessoas. A gente fez com muito amor, é um filme diferente também. Eu estou muito entusiasmada com o momento que o nosso cinema tá vivendo.
Então, eu já fico muito feliz de saber que as pessoas voltaram para as salas de cinema e estão tendo orgulho das produções nacionais na sua pluralidade, né? Filmes sendo feitos em todas as regiões do Brasil, por diretoras mulheres, diretores homens, diretores de todos os jeitos, de todas as escolas, de todos os gêneros: de humor, de drama, de documentário… enfim, os nossos cinemas são muito diversos.
Então, assim, fico muito feliz. E convido todo mundo, a partir do dia 8, para assistir Virgínia e Adelaide. Mas tem outros filmes em cartaz que eu tô curiosíssima para ver, como Homem com H, Jesuíta fazendo Ney Matogrosso… tô louca para ver esse filme, ainda não assisti, mas ficar atento, né?
Tem filmes chegando toda semana e filmes brasileiros precisam ser vistos na sala de cinema. A gente precisa ocupar esses espaços.
Comments