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Crítica | Manas | 2025 SFFILM Festival

  • Foto do escritor: Ávila Oliveira
    Ávila Oliveira
  • 23 de abr.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 30 de abr.

Retrato áspero de realidade brasileira filmado com delicadeza e precisão.

Divulgação


Marcielle/Tielle (Jamilli Correa), de 13 anos, vive em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó com o pai, a mãe e três irmãos. Instigada pelas falas da mãe, ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para longe após "arrumar um homem bom" nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Tielle vê suas idealizações ruírem e fica presa entre ambientes abusivos. Ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege sua comunidade.


A cineasta Marianna Brennand estreia na direção de longas-metragens com um trabalho sensível, forte e transparente. Tratar dos cruéis abusos sofridos por menores de idade na região norte do país com sutileza e autoridade é uma missão difícil que em mãos menos habilidosas correria o grande risco de sair de um tom respeitoso e partir para uma abordagem sensacionalista, apelativa e de mau gosto. Acho importante não limitar a arte a grupos e não desenvolver ideias em cima de “e se”, mas acho mais importante ainda reconhecer que existem sim contextos culturais e sociais que tornam grupos mais aptos que outros a contar algumas histórias. Muitíssimo provavelmente esta narrativa não teria a mesma abordagem se fosse rodado por um homem, por mais sensível que ele seja.


Manas tem um enredo cruel de amadurecimento, mas em qualquer momento Brennand se interessa em explorar, no sentido menos científico e mais negativo da palavra, essa crueldade. O roteiro não está preocupado no melodrama e no sofrimento de Marcielle, ele foca em como aquela menina lida com tantas descobertas dolorosas e o que ela resolve fazer dentro de suas limitações para encontrar uma saída para aquele ciclo de desventuras. O texto também aborda o micropoder da condescendência religiosa, a relação harmônica com a natureza quase como uma válvula de escape da realidade, e a ajuda paliativa e limitada que poderes externos tentam aplacar naquele ecossistema viciado e hermeticamente fechado numa espiral de silêncio e falso-moralismo.

Divulgação


A fotografia trabalha bem o desenho da imagem em baixo brilho e baixa saturação endossando a proposta de atmosfera pesada daquele ambiente mesmo com planos abertos e várias locações externas. O desenho de som também é um elemento importante na elaboração de momentos-chave e traduz com objetividade tudo que não é visto.


A atriz Jamilli Correa vai revelando seu talento e seu potencial gradativamente e consegue entregar uma atuação imponente, mesmo construída em cima de silêncios. Todo o elenco trabalha em consonância e mostra que ficou claro o objetivo do roteiro e da direção em dar destaque à personagem em vez das situações de abuso.


Manas é bem resolvido em não tentar ser um documentário, e também em não romantizar suas verdades com adornos e analogias que destoassem do seu cerne. O resultado é conciso, coerente e lindo, até onde pode ser dada sua conjuntura. 


Nota: 4/5



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