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Crítica | Segredos de um Escândalo

Foto do escritor: Ávila OliveiraÁvila Oliveira

A arte como linha tênue entre homenagem, referência e simulacro da vida alheia

Foto: Divulgação


Gracie (Julianne Moore), uma mulher de meia-idade, vive uma vida feliz e bem resolvida com o marido. Há alguns anos, ela se envolveu em um escândalo desagradável – deixou o então marido para ficar com Joe (Charles Melton), um jovem de 13 anos de idade na época – mas para ela tudo ficou no passado. A atriz de cinema Elizabeth (Natalie Portman) vai passar um tempo na casa de Gracie com uma missão. Esta visita faz parte de sua preparação para interpretar o papel de Gracie em um filme que está sendo rodado. Enquanto conversa com os familiares, Gracie se pergunta se Elizabeth descobrirá alguns segredos de seu passado e se alguma informação escondida virá à tona.


Todd Haynes é um dos diretores mais elegantes e refinados dos EUA. Seus trabalhos sempre se desdobram despretensiosamente sob os olhares do público que quando menos percebe está coberto por uma grande trama bem estruturada, bem amarrada e bem filmada. Ele sabe trabalhar detalhes e sutilezas básicas apenas com movimentos de câmera de forma que simples elementos ganhem relevância na narrativa e prevejam situações, mesmo sem estragar qualquer surpresa do enredo.


E que texto esse filme tem. Ele é suspense, é drama e é comédia sem interferir no terreno um do outro. Não importa qual sua abordagem na interpretação do texto e o que você vai extrair ao final, tudo faz sentido e tudo converge para o mesmo lugar: a curiosidade na e da natureza humana, tanto para os personagens quanto para quem assiste.

Foto: Divulgação


As questões éticas e morais da relação entre uma mãe de família casada e um jovem adolescente são o ponto de partida do filme, mas quando somos apresentados a personagem Elizabeth logo percebemos que essa Gestalt vai funcionar como plano de fundo para o interesse da atriz nos sentimentos de Gracie e especialmente nos sentimentos de Joe. E é quando Elizabeth perde a mão entra sua visita profissional e seus interesses particulares que o suspense e especialmente a comédia ganham força. É aí também que o longa-metragem dá uma cutucada certeira no ego de vários atores, em inferir que a busca seca pela representação fiel de uma “pessoa real”, torna o trabalho mecânico, engessado e sem verdade. Sem o surrealismo de Lynch e o expressionismo de Bergman, a produção bebe da fixação pela persona encontrada em Cidade dos Sonhos (2001) e em Quando Duas Mulheres Pecam (1966).


Natalie Portman entrega uma atuação cínica, introspectiva e, por vezes, hilária. Enquanto Juliane Moore – em sua quarta colaboração com Haynes – carrega o pesar e os sentimentos mais encorpados. No meio das duas está o encantador Charles Melton, cujo personagem se esforça para respirar, para se expressar e até mesmo para sentir enquanto é sufocado pelo contexto em que está inserido e pelas incisivas mulheres que o cercam. Melton consegue transpor toda a supressão de emoções de Joe com precisão.


A história de Gracie e Joe é inspirada num caso verídico, e isso deixa a metapiada ainda mais engraçada. Numa Hollywood desesperada por cinebiografias e pelo mimetismo dos atores, é muito bom ver como a ironia funciona na contrapartida e como até mesmo os exageros funcionam sob uma regrada tenuidade.


Nota: 5/5

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