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Foto do escritorAianne Amado

Entrevista | Diretora e elenco falam sobre 'Mal de Família'

Dearbhla Walsh, Anne-Marie Duff, Eva Birthistle e Sarah Greene discutem o sucesso da série e a jornada emocional da nova temporada

Foto: Divulgação/ Apple TV+


Nesse oceano de conteúdo audiovisual on demand em que vivemos, alguns tesouros acabam não recebendo o reconhecimento que merecem, como é o caso da excelente primeira temporada de Mal de Família (Bad Sisters), série irlandesa estreada em 2022 para a Apple TV+. Com doses perfeitamente balanceadas de humor, drama e suspense, a obra (que é baseada na série flamenga Clan, de 2012) conta os percalços das irmãs Garvey para se livrar – literalmente – do cunhado inconveniente, manipulador e abusivo. 


Quando menciono que a série é digna de mais reconhecimentos, me refiro à audiência, à presença na boca do povo, particularmente o público brasileiro. Isso porque, verdade seja dita, a primeira temporada foi muito bem recebida pela audiência local e pela crítica especializada, tendo conquistado 12 indicações na premiação de cinema e televisão da Irlanda e 4 no Emmy, além de levar 2 BAFTAs, incluindo melhor série de drama. Menos de um mês após o final da primeira temporada, a Apple TV+ já havia encomendado sua sequência. No entanto, em termos de Brasil (talvez pelo reduzido número de assinantes da plataforma de streaming no país), sinto que a série ainda não foi “descoberta” como deveria. 


Pois estamos aqui na esperança de reverter isso. O OP? teve a oportunidade de assistir antecipadamente a ótima segunda temporada, que estreia neste dia 13 de novembro, e conversar com diretora e elenco sobre os novos episódios, que não chegam a se equiparar com a maestria da primeira temporada, mas continua oferecendo entretenimento inteligente e com ótimo ritmo, mantendo, sobretudo, a excelente química entre as atrizes principais. E isso é quase tudo que podemos falar sobre o que vem por aí. A pedido da própria Apple TV+, só podemos confirmar que dois anos depois da morte de John Paul, as irmãs Garvey tentam viver uma rotina normal, mas, mais uma vez, se envolvem numa rede de suspeitas, mentiras e segredos. Todo esse sigilo faz sentido, uma vez que se trata daquelas (raras) narrativas em que qualquer mínimo spoiler pode, sim, estragar a experiência. 


Na entrevista a seguir, conversamos com a diretora e produtora executiva Dearbhla Walsh, Anne-Marie Duff (Grace), Eva Birthistle (Ursula) e Sarah Greene (Bibi).

Foto: Divulgação/ Apple TV+


Aianne Amado: Acabei de terminar a segunda temporada e queria parabenizar vocês por isso!


Sarah Greene: Você assistiu os oito episódios?


AA: Sim! Infelizmente, não posso conversar muito com vocês sobre eles por causa dos spoilers –


SG: Sim [risos]


AA: mas só queria dizer que adorei.


Dearbhla Walsh: Obrigada!


Aianne: O que acharam quando receberam o convite para retornar para a segunda temporada?


Eva Birthistle: Fiquei muito feliz em voltar para mais, sabe, tínhamos esperança quando terminamos a primeira temporada de que isso aconteceria. Que haveria uma segunda temporada, mas realmente não estava nos planos. Eu lembro que tentamos meio que persuadir a Sharon  [Horgan, roteirista e intérprete de Eva]  a pensar em fazer outra, e acho que sugerimos algumas ideias de história provavelmente horríveis. Acho que acabou tendo o efeito contrário. E então só descobrimos quase um ano depois que realmente teríamos uma segunda temporada. Fiquei muito aliviada e feliz com isso.


Anne-Marie Duff: E nós sabíamos que o público estava louco pelo programa e desesperado para saber o que aconteceria com todas as irmãs. Sabíamos que havia um grande apetite por isso, e isso tornava ainda mais prazeroso oferecer essa continuidade.


SG: Assim como o público, achávamos que a série tinha acabado na primeira temporada. torcíamos e desejávamos por uma segunda temporada, e sugerimos ideias bem ruins para Sharon quando estava chegando ao fim da primeira temporada. Estávamos filmando e tentávamos pensar em ideias para continuar. Se fôssemos voltar para uma segunda temporada, queríamos que fosse tão boa quanto, e acho que conseguimos.


DW: Ela não ouviu as ideias delas.


SG: Não, não ouviu nenhuma das ideias. Nenhuma [risos]. Mas sim, ficamos absolutamente empolgados em poder trabalhar juntos de novo, porque realmente nos amamos e é uma alegria ir trabalhar todos os dias com pessoas que você ama.


DW: E acho que é muito bonito também, as pessoas ficam esperando, tipo, "podemos ler o próximo episódio?" Acho que deve ser incrível como escritor, mas também como ator interpretando um personagem, porque você não sabe aonde vai, até ler o que eles querem. E aí você pensa: "Nossa, isso é genial."


SG: Provavelmente não poderia dizer isso, mas algo acontece com Becca na segunda temporada, e ela descobriu porque um amigo dela estava fazendo teste para interpretar o namorado dela. E ela não tinha visto nada. Não tínhamos recebido os roteiros ainda. Só tínhamos confirmado a segunda temporada, então ela descobriu essa grande revelação sobre a personagem de Becca por causa do teste de elenco.


AA: Quando eu li a premissa do programa antes de assistir à primeira temporada, vi que era sobre um grupo de irmãs cometendo assassinato e pensei: "hmm, será impossível torcermos por elas neste clima sociopolítico?". E vocês fizeram isso funcionar. Então, Dearbhla, como foi o processo de criar esse equilíbrio e como vocês planejam mantê-lo na segunda temporada?


DW: O mais importante é que é sobre um grupo de irmãs que planejam matar o irmão delas. Porque, quando Sharon falou comigo pela primeira vez, era sobre o desejo de matar, não o ato em si, sabe? E a frustração com isso. Foi realmente desafiador na primeira temporada porque você só entende sobre o que é a série no final do segundo episódio da primeira temporada, e é sobre o fracasso delas em se livrar dele. E isso foi muito desafiador nos dois primeiros episódios da primeira temporada na edição, e usávamos essa frase chamada "permissão para rir". Para que o público soubesse que tudo bem rir. Porque começa com um funeral, e a maioria das pessoas pensa em um funeral como algo triste, mas grande parte da escrita de Sharon e da série explora a comédia sombria das coisas que acontecem em funerais, e então vem a revelação gradual de que talvez nem todo mundo esteja tão triste com a morte desse homem.

Foto: Divulgação/ Apple TV+


Eu sempre digo a todos e a cada ator e a Sharon que sou a pessoa menos engraçada no set: “eu dirijo drama e nunca dirijo vocês para serem engraçados. Então, vocês podem encontrar o engraçado nisso”. E acho que essa mistura de sempre buscar a verdade emocional é o que todos os atores fazem primeiro. Nenhum deles é comediante. Todos estão buscando a verdade de seus personagens. E a situação, obviamente, a escrita da Sharon e a dinâmica entre todos permite que exploremos esse tom. Uma das abordagens na primeira temporada foi filmar muitas cenas em grupo para capturar a dinâmica natural entre as atrizes. E na segunda temporada queríamos realmente expandir isso; a câmera se movimenta mais e há uma energia nova dessa vez, em parte porque as meninas amam atuar, e é tão divertido. Acho que dançamos um pouco no set, porque ninguém quer ser a pessoa que diz: "Ah, não me diga que precisamos de mais duas tomadas". Em vez disso, todos dizem: "Podemos? Podemos fazer de novo? Podemos fazer mais?" Isso torna o ambiente muito, muito lúdico. Um lugar onde muita criatividade acontece, e é bem colaborativo. O que é adorável.


AA: Vocês receberam muitos elogios na primeira temporada, incluindo o reconhecimento de premiações de televisão. Como foi para vocês testemunhar o sucesso do programa tanto com a crítica quanto com o público? Vocês esperavam esse tipo de sucesso?


EB: Nunca se sabe o quão bem-sucedido algo vai ser ou como será recebido. Você meio que sente que está em algo muito bom, mas, quero dizer, já senti isso muitas vezes em outras produções que não foram bem-sucedidas [risos]. Então, nunca se sabe realmente. Foi incrível ver a resposta que tivemos, e então ganhar, sabe, os BAFTAs... é simplesmente maravilhoso. É uma ótima forma de celebrar o trabalho de todos e ver o reconhecimento. Ver esse reconhecimento global é algo muito bacana. Tem sido incrível ver o sucesso e acho que as pessoas responderam positivamente porque os roteiros são incríveis, mas também porque é algo com o qual as pessoas se identificam, sabe? São personagens femininas que são relacionáveis, e havia um verdadeiro desejo por isso, pelo aspecto familiar e pela dinâmica familiar. Acho que é algo que tem um pouco para todos. 


AMD: E os streamers... uma das grandes coisas que os streamers oferecem é o impacto internacional, sim. Assim, você não precisa esperar que o programa seja lançado em outros países. É uma comunidade enorme de espectadores. É como um novo capítulo na televisão, o que é muito divertido, porque significa que você pode estar de férias em algum lugar e alguém vem falar com você sobre o programa. É maravilhoso.


AA: Vocês interpretam personagens com uma gama extrema de emoções. Vocês podem estar realmente tristes com os acontecimentos, mas, quando as irmãs estão juntas, há alegria e amor. Às vezes, os sentimentos mudam de uma cena para outra, com muitas emoções diferentes. O que é necessário, como ator, para ir tão fundo assim?


AMD: Isso é o sonho dos atores, é o que queremos. Somos bem ambiciosos; queremos interpretar tudo, especialmente em papéis femininos, porque muitas vezes você acaba interpretando um tipo específico de mulher em um filme ou série. Então, é maravilhoso. É uma alegria.


SG: Acho que é isso que torna o desafio tão brilhante: são todas mulheres complicadas e imperfeitas. Mesmo que ela [Bibi] pareça muito forte, na primeira temporada ela estava cheia de raiva contra JP. Ela tinha um foco singular e não vimos muito de sua vida pessoal. Na verdade, ela tem o casamento mais sólido de todos, o relacionamento mais forte. Então, é muito bom explorar isso, e eu amo atuar, então embarcar nessa jornada emocional é uma alegria como atriz.


AMD: E também acho que, no elenco, quando alguém tem um calor natural – como a Sarah tem – você pode interpretar alguém durona e, ao mesmo tempo, esse calor se manifesta através dos personagens. E isso é algo importante para a escolha do elenco da série, para que todos pareçam tridimensionais. Acho que todos na série estão trazendo suas próprias experiências de vida, como suas experiências familiares ou de crescimento, e isso enriquece a história.


AA: E, por fim, quais são suas expectativas para a reação à segunda temporada?


SG: Que as pessoas amem tanto quanto nós amamos. Nós absolutamente adoramos fazer isso, amamos interpretar essa família e somos muito afortunados por o público nos ter recebido em suas casas. Estamos animados que seja um episódio por semana, porque acho que vai reunir as famílias, assim como aconteceu na primeira temporada. Espero que as pessoas amem.


AMD: Acho que elas ficarão chocadas. Há algumas reviravoltas e revelações grandes, decisões que são impactantes. Acho que isso vai prender o público. Então, sim, acho que funciona.


EB: São decisões ousadas, mas acho que elas valem a pena.


AMD: Você quer que o público se surpreenda sempre, quer que eles não vejam o que está por vir. Essa é a melhor narrativa. As pessoas nunca sabiam o que ia acontecer com JP, e você ficava na ponta da cadeira esperando se eles iam conseguir na temporada passada. Nesta temporada, queremos que o público sinta o mesmo, que o tapete seja puxado debaixo deles.


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