Estilosa adaptação de Steven Zaillian opta por vingar o blasé sabático da elite contemplativa
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Um ricaço estadunidense contrata o vigarista Tom Ripley, sem saber quem ele realmente é, para viajar à Itália e convencer seu filho bon-vivant a voltar para casa; A aceitação do trabalho por Tom é o primeiro passo em uma vida de engano, fraude e assassinatos.
Steven Zaillian, o responsável pelo roteiro, direção e desenvolvimento da série tem um longo currículo como roteirista e produtor em Hollywood, mas com diretor a lista se estreita mais. A falta de prática, no entanto, não significa uma falta de experiência e técnica, e aqui ele coloca isso à prova. A câmera estável e serena enquadra com precisão a rica e exuberante cenografia escolhida, e a construída, através do preto e branco inteligentemente aplicado por Robert Elswit. Mas não é só com belos frames de Nápoles, Roma e Veneza e com p&b que Zaillian se expressa, na verdade esse recursos só se somam à proposta noir que o diretor alcança com a elaboração de um suspense crescente e de um ritmo pacato, mas sempre vigilante, como se qualquer coisa estivesse prestes a acontecer a qualquer momento e estamos cientes disso.
O Ripley da minissérie não é um sedutor, não flerta (diretamente) e nem procura usar seu charme como ferramenta de trapaça, ele está mais interessado em jogos mentais para além de qualquer simulação de afetividade. Ele observa, admira e estuda suas vítimas enquanto nutre sua gélida antipatia à desocupada classe alta para agir com cautela e precisão. A inveja do personagem é seu combustível para as articulações que deixam o roteiro sempre aceso e instigando a audiência a ficar atenta e seduzida.
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As ditas “belas artes” têm um papel fundamental no ódio de classes do personagem título. Elas fascinam, intrigam e de uma forma que ele não consegue explicar agem como objetivo para suas atitudes, como recompensa. Ao mesmo tempo que ele almeja ostentar aqueles itens de luxo e requinte, ele tenta compreender o que tem por trás dos gostos da elite, e das escolhas artísticas dos responsáveis pelas obras, em específico Caravaggio, que o roteiro vincula diretamente a Ripley.
As atuações milimetricamente executadas reforçam a matiz desinteressada de todo um “sistema” engessado e repetitivo. Do rico em sua jornada ostentadora de autoconhecimento ao policial ansioso por desmascarar o furtivo Ripley, todos os personagens compartilham de uma indiferença enojada que reflete estagnação e cansaço em relação as predefinições sociais que executam.
Ripley é um personagem já conhecido e bem difundido na literatura, cinema e televisão, então não é surpresa que quem já tenha tido algum contato com adaptações anteriores chegue condicionado a essa nova versão, mas até o espectador mais acostumado com o enredo se surpreenderá seja pelos traços estéticos, pelo tom cínico, pela abordagem cheia de associação artística ou pelo belo conjunto da obra que harmonicamente une por tudo isso.
Nota: 4/5
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