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Crítica | Senna (Minissérie)

Foto do escritor: Gabriella FerreiraGabriella Ferreira

Vemos o mito, mas nunca o homem

Foto: Divulgação


Na última sexta-feira (29), uma das minisséries mais aguardadas da Netflix chegou ao streaming. Senna teve seis episódios e a difícil missão de contar a história do grande ídolo do automobilismo brasileiro. Contando desde o início da carreira do piloto nas pistas de kart até sua consagração e eventual morte nos circuitos da Fórmula 1, a minissérie entrega pouco a mais do que já sabemos da história de Ayrton e fortalece sua figura como um mito, mas nunca vemos de fato quem era o Senna de verdade. 


Trinta anos após sua morte, seus feitos na pista seguem marcantes na memória de quem viveu e também de quem não era vivo na época, muito graças ao seu apelo e perda precoce, que gerou um enorme fascínio mundial por ele. Todas essas particularidades que tornaram Senna uma figura mitológica da história brasileira reside não apenas no talento surpreendente, mas também na profundidade e na complexidade de sua personalidade, especialmente dentro das pistas. 


Desde os primeiros minutos do seu episódio inicial, Senna reflete essa magnitude do que foi Ayrton colocando-o sempre como uma figura imaculada, o cara que corre atrás dos seus sonhos, que abdica de viver o que foi, de certo modo, imposto pela sua família para seguir no esporte. E isso, do início até o final da série, demonstra um pouco de como a trama de Senna segue como mais uma biografia chapa branca, onde há uma ode aquela figura e não existem contradições ao seu respeito, com uma imagem imaculada de uma face da sua história, muito disso perpetuado pela família do piloto por trás dos bastidores. 


Houve, pelo o que foi divulgado pela imprensa, uma certa dificuldade em contar a vida de Ayrton Senna nas telas, mesmo que essa não seja a primeira vez que há um material biográfico autorizado pela família (O documentário Senna: O Brasileiro, O Heroi, O Campeão de 2010, dirigido por Asif Kapadia e vencedor de alguns prêmios BAFTA, é um exemplo). E  nas redes sociais, uma das principais polêmicas de Senna atualmente é a presença diminuta de Adriane Galisteu, namorada dele na época do acidente, e uma hipervalorização da história do piloto com Xuxa. 

Foto: Divulgação


Pra mim, o que falta na minissérie é algo muito mais macro do que a participação ou não de um dos relacionamentos amorosos, é que em Senna essas relações são tratadas de modo superficial e com pouco aprofundamento, há, claro, um melhor foco quando falamos de personagens do automobilismo (como Proust) para a vida de Ayrton. Mas de uma forma geral, o que prevalece é algo vago, desde as relações familiares até os relacionamentos amorosos que pouco foram mostrados em tela. Algo que faz muito sentido dentro da construção de um mito sem falhas, mas que peca quando pensamos em outras obras biográficas mais recentes, que abraçam as virtudes e as falhas de seus protagonistas. 


Mesmo que a presença da personagem Laura Harrison traga uma perspectiva interessante acerca da cobertura jornalística do automobilismo, a condução da narrativa por ela é um artifício fraco e mal utilizado dentro da história como um todo. Mas Senna também tem seus pontos positivos. O destaque principal é o elenco liderado por um Gabriel Leone inspirado na pele de Ayrton. Muito além de aparência física, Leone explora bem os maneirismos, o jeito e as expressões faciais do piloto e emociona muito o telespectador ao decorrer da trama. 


De forma geral, a série tem um cast muito competente e também uma preocupação visual na caracterização bem fidedigna dos seus personagens. Outro destaque são as excelentes cenas que envolvem as corridas, que são bem dinâmicas, utilizando-se de ótimos artifícios para fisgar os seus telespectadores pelo espetáculo visual, que a série promete e entrega sendo uma das produções mais caras da história do streaming. Algo com certeza deve ter atrapalhado a produção de mais episódios, algo que beneficiaria bastante a trama como um todo. 


Mesmo com seus defeitos, é muito bom embarcar novamente na história de um personagem tão marcante quanto o de Ayrton Senna. A minissérie consegue emocionar e demonstrar, mesmo que de certo modo, a importância desse personagem para a história do Brasil como um todo. Vale a pena ser assistida por tudo que Ayrton representa, mas a sensação ainda é que há mais a saber sobre ele, indo além do mito que perdura em cima do seu nome e descobrir de fato quem era o homem Ayrton Senna.


Nota: 3,5/5

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