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Entrevista | Bruno Barreto, Larissa Manoela e Giovanna Rispoli falam do “desbocado” Traição Entre Amigas

  • Foto do escritor: Aianne Amado
    Aianne Amado
  • 17 de dez.
  • 5 min de leitura

Em entrevista ao Oxente Pipoca, diretor e protagonistas contam sobre o processo de adaptar o clássico de Thalita Rebouças 25 anos depois.

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Divulgação


Todas nós que fomos meninas ou adolescentes a partir dos anos 2000 e nos interessamos por leitura já ouvimos falar de Thalita Rebouças. A autora carioca é responsável por dezenas de livros, quase todos de ficção voltados ao público juvenil — muitos deles best-sellers. O alcance de sua obra é tamanho que nove filmes, além de uma peça e um musical, já foram adaptados a partir de seus textos.


Na última quinta-feira (11/12), estreou Traição Entre Amigas, adaptação de seu livro de estreia, homônimo. Dirigido por Bruno Barreto e coestrelado por Larissa Manoela e Giovanna Rispoli, o longa acompanha a história de duas amigas inseparáveis que, após uma sucessão de desentendimentos, seguem caminhos distintos. Barreto é enfático ao destacar que, ao adaptar a obra original — publicada em 2000 —, não teve “intenção de atualizar” a narrativa, ainda que reconheça a necessidade de uma nova roupagem, mais próxima da juventude de mais de duas décadas depois.


"A gente está contando uma história que se passa hoje. Não tinha [no livro], por exemplo, a Penélope ficando com uma menina. Mas a Penélope pegava Deus e todo mundo lá em Nova York, né? Está no livro! Hoje seria mais do que uma também pegar uma menina. (...) Poderia ser atual mesmo não pegando uma menina, mas por que não?", disse ele.


É com essa mesma irreverência que conduz toda a produção. Em suas próprias palavras, define o filme como “solto”, “fluido”, “desavergonhado” e “desbocado” — algo que, segundo ele, “não se via no cinema brasileiro há muito tempo”, especialmente no que diz respeito à abordagem da sexualidade.


Há, de fato, um frescor em ver um filme juvenil, voltado ao público feminino, tratar de desejo e relações sexuais com tamanha frontalidade. Para além da provocação, Traição Entre Amigas pode ser educativo (sem jamais resvalar no didatismo) e, por isso, libertador. Giovanna Rispoli observa que, “apesar do nosso público ser um público jovem adulto, é um filme que toca mulheres principalmente, em vários lugares, em diversos momentos das suas vidas – ou relembrando uma trajetória, ou refletindo sobre os novos tempos e [percebendo] como a gente pode realmente ser o que a gente quiser”.


Encontrar esse tom, no entanto, não foi simples. A narrativa se estrutura a partir de duas linhas paralelas que raramente se cruzam, acompanhando protagonistas que não se falam. Para Barreto, esse foi o maior desafio do projeto — e também a razão de ele ter demorado tanto a levá-lo adiante: "eu tinha esse receio o tempo todo. A gente não testa mais os filmes, né? [depois da pandemia de Covid-19, as sessões-teste estão cada vez mais raras na indústria audiovisual] Então, eu não tinha como avaliar. É uma estrutura totalmente atípica, um campo minado para você se ferrar, que quebra todas as regras de roteiro". Rindo, o diretor admite que ainda hoje se surpreende: “meu Deus, eu não acredito que isso deu certo”.


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Foi justamente nesse período de busca pelo tom ideal que Larissa Manoela e Giovanna Rispoli se juntaram ao projeto. As duas já haviam atuado em outra adaptação de Thalita Rebouças, Fala Sério, Mãe! (Pedro Vasconcelos, 2017), mas ainda não tinham contato com Traição Entre Amigas. Rispoli lembra do impacto imediato da leitura e confessa que seu primeiro pensamento foi: “como ela teve a audácia de contar essa história 25 anos atrás?!”.


"É uma história muito potente e que agora, quando a gente traz às telas em 2025 – 25 anos depois –, a gente já percorreu um longo caminho para essas história ser bem recebida por um público mais amplo, que talvez no momento [da publicação] tenha ficado só ali entre as leitoras, esse público feminino que se identificava. Agora pode ganhar ainda mais camadas. A sociedade já está, – graças a Deus! – mais aberta a receber essa história – com as atualizações que a gente teve que fazer, mas com a essência do livro que permanece", comentou a atriz. 


Larissa Manoela também celebra o reencontro com a obra de Rebouças: “Existe uma magia em adaptar um livro, porque você sai das páginas e materializa um rosto, um corpo, uma presença. É um prazer enorme”.


Bruno Barreto – cujos trabalhos incluem adaptações literárias como Dona Flor e Seus Dois Maridos, Gabriela, Cravo e Canela, O Que É Isso, Companheiro?, Bossa Nova e Flores Raras – parece compartilhar dessa visão. O diretor conta que, ao escolher um novo projeto, costuma se perguntar menos qual é a história e mais o que ele pode contar a partir dela  – afinal, “você pode contar uma mesma história para falar de coisas diferentes”, segundo ele. Em Traição Entre Amigas, seu foco recaiu sobre o crescimento pessoal que nasce do erro, o que, segundo ele, torna a narrativa mais humana: “eu parto de um erro, de uma escolha, de um impulso, que tem um peso simbólico e deflagra várias outras coisas… e com humor também”. Aliás, o cômico também é característica bastante presente em sua filmografia. Apesar de afirmar não ter medo do melodrama, Barreto diz prezar pelo humor em todas as suas obras “porque a vida não é trágica o tempo todo, nem leve o tempo todo. A vida é uma comédia”.


Essa dicotomia também atravessa as protagonistas. Penélope, vivida por Larissa Manoela, é expansiva, impulsiva e espontânea; Luiza, interpretada por Giovanna Rispoli, é mais tímida e introspectiva. A oposição entre as duas se materializa inclusive nos espaços: Penélope habita um verão novaiorquino de cores saturadas, enquanto Luiza vive em uma Curitiba descrita pelo diretor como “cinza, até quando faz sol”, nas palavras do diretor.


É em Nova York que Penélope participa de uma audição para interpretar Carmen Miranda — personagem que Larissa Manoela viverá, de fato, em seu próximo filme, também dirigido por Barreto. Questionada sobre a coincidência (ou possível easter egg), a atriz brinca que já existia “um pó de pirlimpimpim de magia ali”.


"A Carmen, na verdade, já me visitou algumas vezes, em alguns trabalhos. Em Além da Ilusão, quando fiz minha primeira novela na Globo, é, eu me vesti de Carmen Miranda, porque o ator que fazia meu pai tinha umas alucinações com a minha personagem vestida de Carmen Miranda. A novela que eu tô fazendo agora, Êta Mundo Melhor!, se passa num momento onde a Carmen está em ascensão. Então, a Dita Ribeiro, que é interpretada pela Jennifer Nascimento, uma cantora da rádio, canta várias músicas da Carmen. E quando eu interpretei a Penélope audicionanto para Carmen Miranda na Broadway, eu não sabia que eu estava sendo realmente testada, fazendo uma audição para vivê-la. Depois desses dois anos, fui surpreendida com o convite. Vou ficar muito feliz de dar mais detalhes ano que vem sobre esse projeto, mas já tenho um gostinho porque quando eu vi teve essa camada especial. Fiquei toda arrepiada. Realmente a arte nos surpreende de uma maneira muito especial", afirmou ela.


Traição Entre Amigas está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.



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