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Foto do escritorHosanna Almeida

Crítica | Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

A inventividade do Aranhaverso supera-se na mais aguardada continuação do ano


Foto: Divulgação


Esta é uma resenha sobre uma sequência. E não há nada de muito especial sobre uma sequência de filmes de heróis. Comumente repetirão a história principal, aumentarão a quantidade de inimigos, e bom, nós já conhecemos a história: ninguém entra (ou eu prefiro acreditar que você não fará essa escolha equivocada) numa sessão no escuro. Mas caso seja sua opção viver uma aventura no desconhecido, esta é a fórmula do filme de herói: garoto normal incompreendido encontra poderes -> garoto normal incompreendido com poderes aprende o peso e a responsabilidade de ter estes tais poderes -> garoto normal incompreendido com poderes, que agora aprendeu o peso e a responsabilidade de ter tais poderes, agora amadurecido e em amadurecimento, lança-se em seu mundo de herói e vai salvar o mundo. Está aí a fórmula, seu dever, agora, é jogá-la fora e esquecer grande parte do que já viu a respeito. Homem-Aranha: Através do Aranhaverso não faz questão de seguir a cartilha.

A estranheza diante do universo dispõe-se diante dos olhos da mesma maneira como se duzentos tipos diferentes de alucinógenos tivessem sido expelidos no ar antes do filme começar, então já fica o aviso caso você seja sensível sensorialmente. As cores e os patterns gráficos introduzem sequenciais referências vanguardistas das artes plásticas que acompanham os diferentes Spiders e suas personalidades ou reações (em algum momento eu estive certa de ter visto detrás de um deles a composição viii, de kandinsky). Deles, o que mais salta aos olhos, o Spider-punk, do igualmente enigmático Daniel Kaluuya, é um amontoado geométrico de colagens vivas em movimento símile ao stopmotion, conferindo o ar anárquico, descolado e artístico que o personagem exala. [Spoiler na próxima frase, caso não queira, pode passar para o próximo parágrafo]. Os cameos fizeram a plateia vibrar de loucura, como quando um outro ator, já muito querido e desejado pelos mais famosos fancasts de Miles Morales aparece, encarnando outro personagem (mas este, obviamente, é surpresa).


Foto: Divulgação


Quanto à história, Gwen Stacy lidera a narrativa, e, ao conduzir o fio da história, traz uma outra voz que acrescenta perspectiva e profundidade à história sem cansar o rumo, apesar da duração de mais de 2h. Quando a história começa do ponto temporal de algo que já aconteceu, a sensação de quem assiste é a de que estaremos sendo, progressivamente, introduzidos a uma viagem temporal (coisa que a Marvel adora), porém, aqui, com um pouco mais de critério estético e rigor quanto ao roteiro. Miles Morales, em sua realidade, ainda não sabe como encontrar sua amiga Gwen, mas a mantém em seus pensamentos — e desenhos, e, novamente, a influência artística retorna, já que Miles está inserido na cultura hip-hop, graffiti, e todos os outros desdobramentos estéticos.


O desejo do adolescente de reencontrar a amiga (e potencial interesse romântico rapidamente deixado de lado pela trama que, graças a Deus, parece não querer se importar com isto) torna-se o mesmo que o dela quando, recrutada por uma grávida e black-power Jessica Drew e pelo misterioso Miguel O’Hara, líder da Sociedade Aranha, recebe um bracelete sônico que a transporta para diversas realidades. Há neste recrutamento, no entanto, uma função, um trabalho que caberá à Gwen fazê-lo, e você obviamente acompanhará no filme, afinal esta é uma resenha sem spoilers.


Você também acompanhará que não há vilões neste filme, e este é necessariamente um triunfo do Aranhaverso. Todos têm os motivos plenamente cabíveis e compreensíveis para fazer o que fazem, e você os entenderá. Não há bem e mal ou perspectivas essencialmente dicotômicas, ou que excessivamente reforcem a necessidade de tomar um lado em detrimento de outro, como em outras produções no Universo Cinematográfico da Marvel.


Curiosamente, uma animação, vista muitas vezes (de modo preconceituoso) como um gênero exclusivo para produções infanto-juvenis, adota caminhos extremamente maduros na construção da narrativa. No fim, era perceptivel que grande parte do público estava 1) sem saber como a coisa ia escalar, ou, 2) em dúvidas sobre o caráter do antagonísta do filme, que parecia justo demais para ser tratado apenas como vilão, e o principal, 3) se o próprio Miles Morales, em sua ânsia por fazer a coisa correta, estava de fato certo. O desenvolvimento da trama leva o Aranhaverso até às últimas consequências. O filme é bonito, muitíssimo bem produzido e estabelece, até então, um nível alto de qualidade e refinamento de técnicas diversas até mesmo para os próprios parâmetros. Continuar mantendo o nível é um compromisso que, aparentemente, estão dispostos a manter.


Nota: 5/5

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